Nos últimos anos, o desempenho do PIB brasileiro tem sido uma surpresa positiva. Em 2023, o crescimento foi impulsionado não só pela recuperação do sector agrícola da colheita perdida do ano anterior, mas também por uma combinação de factores que impulsionaram a procura. Contudo, este elevado crescimento não garante a continuação de surpresas positivas em termos de projeções de crescimento nos próximos anos.

Pelo contrário, o ambiente de investimento é muito desafiador. Após queda de 3% em 2023, o primeiro semestre de 2024 trouxe sinais de recuperação. No entanto, apesar deste aumento recente, o nível de investimento continua a regressar aos valores observados no final de 2022 e o rácio de investimento mantém-se abaixo dos 17% do PIB. O crescimento recente é encorajador, mas ainda há um longo caminho a percorrer para atingir níveis de investimento que possam alimentar o crescimento contínuo da produtividade.

Esta recuperação moderada dos fluxos de investimento reflecte-se no crescimento do stock de capital. Dados do Ipea indicaram aumento ligeiramente acima da estabilidade nos 12 meses encerrados em março. Isto é um sinal de que o produto potencial da economia — isto é, a capacidade produtiva máxima sem criar pressões inflacionistas — está a crescer lentamente.

Além disso, houve um declínio significativo na taxa de desemprego desde o início da série do IBGE em 2012 e de outros indicadores para mínimos históricos, e o nível de utilização da capacidade instalada no setor industrial aumentou para o seu nível mais alto desde 2014. Sugere uma situação em que o PIB está a crescer a uma taxa superior à do produto potencial.

Este elevado crescimento foi possível devido à recessão criada pelas crises econômicas enfrentadas pelo Brasil entre 2014-2016 e 2020, o que reduz significativamente o seu PIB potencial no longo prazo. Contudo, é importante reconhecer que, a longo prazo, o crescimento acima do potencial cria pressões inflacionistas e é insustentável.

Outros fatores também acrescentam complexidade a esta situação. Prevê-se que o crescimento real da despesa pública no próximo ano seja quase inteiramente absorvido pelas despesas obrigatórias, tais como transferências de rendimentos e custos com pessoal. Além disso, as receitas esperadas na lei orçamental de 2025 podem estar sobrestimadas, o PIB projectado de 2,64% parece improvável. Também deverá arrecadar R$ 168 bilhões em receitas extraordinárias dependendo da celebração de acordos com credores sindicais e da aprovação de medidas no Congresso. Tudo isto significa que no próximo ano voltarão a existir contingências significativas de gastos discricionários já definidos, que impactarão negativamente os investimentos públicos.

Os desequilíbrios orçamentais e a falta de perspetivas de melhoria sustentável na trajetória da despesa pública acrescentam incerteza ao ambiente macroeconómico, criando um ambiente difícil para a manutenção da estabilidade e desencorajando o investimento privado a longo prazo. Este desequilíbrio fiscal impõe um fardo ainda maior à política monetária para manter a inflação sob controlo, criando uma pressão ascendente sobre as taxas de juro.

Em suma, o Brasil vem crescendo acima do potencial nos últimos anos, mas a inércia é exaustiva. A procura, fortemente estimulada pela política fiscal expansionista, não consegue sustentar esta taxa de crescimento por muito tempo. Este cenário aponta para um abrandamento do crescimento, prevendo-se que a expansão do PIB seja inferior a 2% em 2025, reflectindo limitações impostas pela necessidade de ajustamento da capacidade produtiva e das condições estruturais.

José Ronaldo de C. Souza Jr. É Economista-Chefe da Leme Consultores e Professor do Ibmec/RJ.

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