Angelim-petra, cumaru, ip, cedro e maseranduba são as mais valiosas das madeiras de origem amazônica – são altamente resistentes e duráveis, podendo ser utilizadas em tudo, desde a construção civil e naval até a produção de móveis. Mas expandir o consumo de madeira extraída legalmente continua a ser um desafio devido aos receios de que a matéria-prima esteja ligada à desflorestação. A tecnologia está se tornando uma aliada, com ferramentas de diagnóstico cada vez mais sofisticadas.

A Genoma Biotech, startup especializada em biologia molecular do Parque Tecnológico de Piracicaba (SP), desenvolveu uma solução de monitoramento de produtos florestais por meio do sequenciamento dos genomas das espécies e sua identificação por meio de DNA. Com base em informações genéticas geradas a partir de mais de 1.100 amostras de árvores e folhas coletadas nas áreas de manejo, a tecnologia permite que as duas espécies identifiquem e verifiquem sua assinatura genética, ou seja, as características de uma determinada população de árvores. área.

Na prática, as ferramentas de rastreabilidade do DNA, além da data de colheita e localização geográfica, confirmam que a madeira é a espécie correta para ser comercializada e que provém de uma área de manejo específica. “Estas tecnologias surgem num momento em que os consumidores, especialmente os consumidores internacionais, procuram garantias de origem e legalidade”, afirma David Escacute, chefe de vendas do Grupo TMNH, do qual a Genoma Biotech faz parte.

O consumidor reivindicou origem e garantia legal”

-David Eskaket

A recente Lei Anti-Desflorestação (EUDR) da União Europeia, que entrará em vigor em Janeiro de 2025, e a Lei Lacey, que estabelece condições para a entrada de madeira estrangeira nos Estados Unidos, aumentaram a necessidade de mecanismos de conformidade. Essas tecnologias já estão sendo utilizadas por duas empresas exportadoras – Blue Timber Florestal e Samis Florestal, que realizam o gerenciamento certificado das informações genéticas da árvore e dos documentos legais emitidos pelos órgãos ambientais, que podem ser consultados pelos compradores por meio de um código QR.

O CRAS Madeira, que comercializa produtos de madeira certificada de manejo florestal no Pará, desenvolveu tecnologia própria para ajudar o consumidor a saber exatamente de onde vem a madeira que compra. Ao solicitar o rastreamento da árvore no momento da compra, por meio de um QR code, é possível acessar dados sobre a espécie, número de autorização de manejo emitido pelo IPAMA e a localização geográfica exata onde a árvore foi colhida.

Segundo Rodrigo Citarelli, CEO do CRAS Brasil, a tecnologia é uma forma de difundir informações sobre o manejo florestal e sua importância para a conservação florestal. “Sempre lutamos contra a percepção negativa do consumidor em relação à madeira retirada da Amazônia. Agora, há como saber se o manejo segue critérios como cortar apenas três árvores por hectare, respeitar o estágio de crescimento da espécie e promover a regeneração florestal”, explica.

O pessimismo do consumidor não é à toa: segundo dados do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (CMEX), cerca de 30% da extração de madeira na Amazônia é feita de forma irregular. No período de agosto de 2021 a julho de 2022, foram explorados 394,6 mil hectares de matas nativas para fins madeireiros. Desta área, 73% da exploração florestal foi autorizada e os restantes 27% (104,4 mil ha) não autorizados. Contudo, é difícil estimar a verdadeira remoção ilegal de madeira das florestas.

“O atravessador é o gargalo do setor florestal. Por isso as tecnologias de monitoramento são essenciais para proteger os compradores e combater a crise de imagem relacionada ao desmatamento”, afirma Maryane Andrade, Assessora Jurídica Florestal do Instituto de Gestão e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Em 2017, a organização criou a plataforma TimberFlow, com o objetivo de facilitar a visualização dos níveis de produção de madeira na Amazônia, com base em dados dos sistemas oficiais de controle federal DOF/Sinaflor e dos estados do Pará e Mato Grosso, principais produtores. . A ferramenta está passando por melhorias e, no próximo mês, será lançada uma nova versão que estará vinculada a dados legais (por exemplo, áreas sujeitas a restrições por desmatamento) e à cadeia produtiva de produtos madeireiros.

A certificação florestal é outra forma de os consumidores verificarem se um produto foi extraído legalmente. O selo FSC (abreviatura de Forest Stewardship Council em inglês) é o mais consolidado com 30 anos de mercado. No Brasil, existem 7,6 milhões de hectares certificados. Destes, 1,2 milhão possuem concessões florestais na Amazônia. “Hoje, 90% das áreas de concessão são certificadas com o FSC, porque os empresários entendem o selo como uma garantia adicional legal”, afirma Elson Fernandez de Lima, Diretor Executivo do FSC Brasil.

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